Bitcoin no plano de reforma – Qual portfólio de investimentos do futuro?

Com o ressurgimento do preço de Bitcoin em 2024 – em parte impulsionado pela aprovação em janeiro dos ETFs Bitcoin, pela Securities and Exchange Commission (SEC) -, tem havido um interesse renovado no espaço cripto. Contudo, até que ponto é viável diversificar o seu portfólio de longo prazo com Bitcoin ou outras criptomoedas? Será que estes ativos financeiros mais voláteis deverão estar presentes na maioria dos planos de investimento para a sua reforma?

Sabendo-se que estes planos de reforma exigem certos requisitos, entre os quais a capacidade de crescimento no longo prazo e a estabilidade – será que Bitcoin tem espaço? À medida que vivemos mais, será necessário consolidar um capital suficientemente grande para podermos satisfazer as nossas necessidades durante todo esse tempo. Sendo, em muitos casos, considerado o dinheiro do futuro, até que ponto é inteligente diversificar esse portfólio de longo prazo com ativos, como Bitcoin?

Apesar de presente em fundos de investimento, Bitcoin não é consensual

Desde que chegou ao mercado, o Bitcoin tem gerado sentimentos abertamente contraditórios. Assim, aqueles que suspeitam desta tecnologia continuam a considerá-la uma bolha. Isto mesmo quando havia atingido máximos de US$ 12.000, US$ 67.000 ou, mais recentemente, US$ 73.738, onde está localizado o seu nível atual.

Acima de tudo, a enorme volatilidade apresentada pelo Bitcoin, e em geral no universo cripto, faz com que os críticos vejam este ativo mais como um grande “gamble”. Até mais do que um verdadeiro instrumento de investimento. Porém, bem diferente, os fiéis à tecnologia de criptomoeda consideram que é precisamente um dos seus pontos fortes, uma vez que os ativos voláteis poderão tornar-se os mais rentáveis.

Na verdade, entre os defensores de BTC a longo prazo, podemos encontrar não apenas gurus empresariais e do setor de tecnologia, mas também do setor financeiro. É o caso, por exemplo, de Robert Kiyosaki, autor da obra “Pai Rico, Pai Pobre”, que recentemente apelou ao investimento “mesmo que apenas de 500 dólares”, num ativo com potencial de valorização que prevê que alcance os 300 mil dólares até ao final do ano.

O que considerar ao construir um portfólio para a sua Reforma?

De facto, vale a pena lembrar que a evolução demográfica está a conduzir-nos a uma verdadeira crise na Segurança Social, onde as pensões públicas serão inevitavelmente insuficientes. Indo para o caso específico do nosso país vizinho, em 1950, haviam 5 trabalhadores para cada reformado. Em 2000, o rácio passou a ser de 3 trabalhadores por cada reformado e, em 2050, espera-se que alcancemos a paridade de 1:1. As causas? Poucos nascimentos e avanços na medicina que tornam as nossas vidas mais longas.

Com tal em mente, alguns especialistas já consideraram o Bitcoin como um instrumento de potencial poupança e até de proteção aos mercados financeiros mais tradicionais. Pelo menos nas condições atuais, trata-se de um ativo mensurável, que tem uma enorme liquidez graças ao elevado volume de transações diárias que realiza. Além disso, e mais importante, tem cada vez mais apoio jurídico e legal na Europa, o que torna o risco jurídico difuso.

Claro que o motivo que nos leva a investir em Bitcoin, além da proximidade com ambientes cripto, está na sua potencial rentabilidade. Ou seja, analisando um gráfico do BTC comparado ao S&P 500 e Nasdaq 100 dos últimos cinco anos, percebe-se que a rentabilidade de quem investiu em Bitcoin é bastante superior. Desafiando até os conselhos do lendário Warren Buffet, por exemplo. Em suma, podemos constatar que, no mesmo período, o Bitcoin cresceu 1.169,72%, enquanto o Nasdaq cresceu 134% e o S&P 500 76%. Evidentemente, a taxa de crescimento da criptomoeda rainha revelou ser o melhor investimento.

ETFs de Bitcoin aprovados vieram legitimar este investimento por fundos

Sem dúvida que este anúncio, em janeiro de 2024, também trouxe não apenas legitimidade institucional ao espaço, mas também acesso mais facilitado às criptomoedas por parte das grandes instituições. Aliás, como comprovam os números: em 9 de abril, os ETFs spot de Bitcoin detinham US$ 56,35 mil milhões em ativos sob gestão, de acordo com dados do The Block.

“Muitos investidores consideram alocar criptomoedas nas suas contas de reforma ou com vantagens fiscais. Isto dada a tendência histórica dos ativos de cripto de fornecerem retornos descomunais”, garantiu Rayhaneh Sharif-Askary, chefe de produto e pesquisa da Grayscale. “Ao tomar esta decisão, os investidores devem considerar a sua alocação de criptomoedas no contexto da sua carteira de investimentos mais ampla, do apetite ao risco e das necessidades de rendimento.”

Para que se tenha uma ideia, Grayscale é uma das empresas que lançou um ETF Bitcoin à vista em janeiro. Em 9 de abril, tinha US$ 23,1 bilhões em ativos sob gestão. Ressaltando o interesse crescente, uma pesquisa da Unchained descobriu que 23% dos investidores norte-americanos que não possuem Bitcoin considerariam investir no ativo por meio de seu 401(k), IRA ou outro plano de reforma em 2024. Assim, embora os especialistas recomendem a diversificação como pedra angular de um portfólio seguro e completo, os conselhos ainda são diversos, quando se trata de incluir cripto.

Qual a percentagem de cripto ideal no seu plano reforma?

Vários especialistas argumentam que, devido à sua volatilidade inerente, os investidores não devem alocar mais de 5% de criptomoedas no seu portfólio de longo prazo.

“A alocação de cripto num plano de reforma poderá variar, dependendo da tolerância ao risco e das metas financeiras de um indivíduo”, disse Michael Collins, CFA e fundador/CEO da WinCap Financial. “No entanto, a nossa orientação geral seria alocar menos de 5% do portfólio para ativos cripto. Para maior transparência, os nossos clientes não possuem cripto nas suas carteiras de reforma. Pois acreditamos que podemos obter um melhor perfil de risco-recompensa com ações de pequena capitalização.”

Além disso, Sharif-Askary, da Grayscale, ecoou o sentimento acima, garantindo que a pesquisa sugere que aproximadamente 5% da alocação de um portfólio para criptomoedas pode resultar em retornos ajustados ao risco mais altos, em média. Isto embora com maior volatilidade do portfólio, para investidores que, de outra forma, deteriam um mix clássico de ações e títulos.

Depende inteiramente das suas circunstâncias

Para além de todos estes especialistas, Cliff Ambrose – FRC e fundador/gerente de património da Apex Wealth – argumentou que, ao considerar a incorporação de criptomoedas num portfólio de reforma a alocação ideal depende de vários fatores. Estes incluem tolerância ao risco, objetivos de investimento e horizonte temporal.

No entanto, embora não haja uma resposta única para todos, este também disse que os especialistas financeiros geralmente recomendam uma abordagem conservadora, com alocações de criptomoedas variando de 1% a 5% do portfólio total:

“Esta alocação pode fornecer exposição ao potencial positivo das criptomoedas. Ao mesmo tempo que mitiga a volatilidade inerente e os riscos associados a esta classe de ativos”, acrescentou.

Não deverá considerar incluir criptomoedas no seu plano reforma?

No outro extremo do espectro, alguns especialistas desaconselham a inclusão de criptomoedas em investimentos para reformar, garantindo que são muito arriscadas e semelhantes a investimentos especulativos.

“A resposta é simples: zero”, disse o Dr. Robert R. Johnson, professor de finanças do Heider College of Business, da Creighton University. “O mercado cripto nunca foi um bom lugar para investir. Às vezes tem sido um lugar lucrativo para alguns especularem.” Segundo Johnson, investir em Bitcoin e outras criptomoedas é pura especulação, não se enquadrando num bom plano de investimento a longo prazo.

Quais os pontos fundamentais na construção de um plano reforma equilibrado?

Ainda que será um erro ignorar por completo este novo mercado e setor de tecnologias promissoras, a verdade é que diversos pontos fundamentais de investimentos a longo prazo não deverão ser ignorados. Assim, com foco especial para o seu plano de reforma, estes são pontos que muitos especialistas financeiros acreditam serem os mais corretos a longo prazo:

O fator mais importante sempre será o tempo – quanto antes começarmos a trabalhar na nossa reforma, melhores serão os resultados que obteremos. Além disso, se o nosso horizonte for o longo prazo, teremos maior capacidade de resiliência em caso de quedas do mercado.

Como o Dollar Cost Average funciona?

O sistema “Dollar Cost Average” é muito útil para reduzir a volatilidade média do seu plano Reforma. Trata-se de comprar periodicamente, o que estabelecerá um preço médio ponderado, quer o mercado esteja a descer ou então a subir. Isto desde que esteja satisfeito com o risco/ benefício. Se o objetivo de comprar Bitcoin é a reforma, vamos nos acostumar com a ideia de que não devemos mexer nesse capital até então. Muitos poupadores cometem o erro de destinar parte do dinheiro para outras ativos, assim que começam a registar os primeiros retornos positivos deste mercado.

No início da poupança é quando devemos adotar as posições mais voláteis, aspeto onde o Bitcoin se enquadra perfeitamente. Contudo, à medida que nos aproximamos da data da reforma, é necessário reduzir a nossa exposição ao risco. Passaremos assim de uma posição de crescimento para uma posição de consolidação, onde ações com dividendos ou investimentos em índices poderão fazer mais sentido.

Tudo isto não esquecendo o poder do juro composto. Ou seja, quanto mais cedo começar a juntar e investir para a sua reforma, maior será o exponencial para conseguir retornos que só conseguiria com as décadas até ao fim do seu ciclo como trabalhador. Mais do que investir em grandes montantes de uma vez, entrar no mercado com regularidade irá contribuir para esse conceito de “juros compostos”.

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